sábado, 3 de outubro de 2009

(VIOLÊNCIA URBANA) Levantamento mostra que a maior parte dos homicídios ocorre nos sábados à noite






RIO - O segurança José Alexandre da Cruz Romeu, de 37 anos, levanta cedo da cama, faz café para os dois filhos pequenos e cuida deles durante todo o dia. Sua mulher, Narcisa de Almeida Reis, de 35 anos, está em Quintino, ajudando sua ex-patroa a fazer salgadinhos. Porque hoje é sábado - na verdade dia 20 de junho -, José veste seu colete e segue para o batente.

Por coincidência, ele trabalha na mesma Rua Vidal onde está a mãe de seus filhos. Naquele sábado, três criminosos assaltam um bar. Eles veem o segurança e disparam suas armas contra ele. Um dos bandidos se aproxima e lhe dá mais um tiro, para que não haja chance de sobrevivência. Porque hoje é sábado, José Alexandre está morto.

E é por isso que Narcisa e seus filhos - de 20, 5 e 3 anos - não têm dúvidas: a exemplo do célebre poema de Vinícius de Moraes, eles gostariam que o sábado, o Sexto Dia da Criação, fosse riscado do Livro das Origens e... também de suas lembranças.

O sentimento da família de Narcisa é compartilhado por pelo menos 756 famílias. Em um levantamento feito pelo EXTRA, com base no recolhimento de registros de ocorrência em todo o estado, mais da metade dos assassinatos ocorrem nos fins de semana: 141 mortes são registradas aos sábados.

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Minha filha hoje não consegue ouvir mais o nome do pai. Meu filho pergunta por ele todos os dias
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- Estava muito próxima do meu marido, mas, quando ouvi o tiro, não imaginei que era ele. Todos gostavam dele. Era sábado. José tinha ido ao bar dar uma espiada na TV. Passava o jogo do Vasco... Minha filha hoje não consegue ouvir mais o nome do pai. Meu filho pergunta por ele todos os dias. Estou desempregada e sobrevivo com a ajuda de amigos.

Após a morte de José Alexandre, os dias passam e, porque hoje é sábado - agora 4 de julho -, dois homens roubam um carro em Madureira, também na Zona Norte. Policiais do 9º BPM (Rocha Miranda) surpreendem os assaltantes Alexandre Silva de Assis, de 26 anos, e Nelson da Silva Rodrigues, de 18. A dupla é baleada na troca de tiros.

Alexandre e Nelson, apontados pela polícia como assassinos do segurança José Alexandre, estão mortos. Como diria o Poetinha, porque hoje é sábado...

São Gonçalo: crimes no fim de semana
Porque é sábado há mortos em São Gonçalo. Dos 27 assassinatos registrados na área da 74ª DP (Alcântara) entre julho e agosto, 15 acontecerem no fim de semana - sete deles aos sábados. O fato surpreende até o delegado titular Jorge Luiz Veloso. Para ele, a maioria dos assassinatos são circunstanciais e nem o policiamento ostensivo pode prever.

- Aqui, na área da 74ª DP, isso realmente ocorre. Mas, como a maioria dos crimes aconteceu de forma circunstancial, acho que o motivo é que nos fins de semana as pessoas não trabalham, bebem e usam drogas. E até mesmo deixam para resolver desavenças neste período. É claro que não estou baseado num estudo, apenas imagino que isso aconteça. Este é, sem dúvida, um dado muito curioso. Acredito que se o ISP (Instituto de Segurança Pública) puder estudar estes dados, irá ajudar muito o trabalho da polícia - afirma o delegado.

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Acredito que se o ISP (Instituto de Segurança Pública) puder estudar estes dados, irá ajudar muito o trabalho da polícia
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Ainda de acordo com Veloso, os homicídios ligados a grupos de extermínio, milícia e tráfico de drogas não têm dia certo para acontecer. Segundo ele, estes grupos agem diariamente, já que ficam em áreas onde o Estado não está presente. E que, por isso, é possível imaginar que parte das mortes ocorridas nos fins de semana é cometida por pessoas que não estão ligadas a estes grupos, o que torna mais difícil uma prevenção.

Em dias de sol, a violência aumenta
O titular da 28ª DP (Campinho), Carlos Henrique Pereira Machado, responsável pelas investigações da morte do vigia José Alexandre, também se mostrou surpreso com os dados, mas disse que levantamentos com este tipo de detalhamento podem, sim, auxiliar a polícia:

- Depois de sete anos na Delegacia de Homicídios, este é um dado novo para mim. Mas é interessante. Uma outra curiosidade que percebo é o clima. O número de ocorrências em dias muito frios ou chuvosos cai para quase zero. Em dias de calor aumenta muito. Imagino que, assim como nos fins de semana, aumente as mortes, porque em dias de sol têm mais pessoas nas ruas.


Com relação aos homicídios registrados na delegacia de Campinho, Pereira Machado diz que cerca de 80% dos casos são elucidados:

- No caso da morte do vigia, identificamos os três assaltantes. Dois deles morreram num confronto com a PM e um, Humberto Márcio de Almeida Junior, está com mandado de prisão expedido.

Homicídios
De acordo com levantamento feito pelo Extra, em julho e agosto foram registrados em boletins de ocorrências pelo menos 756 homicídios no estado. Em julho, foram 430 mortes. Em agosto, 326.


Armas de fogo
Das 756 mortes, 627 foram por arma de fogo. A maior parte das vítimas dos homicídios era homem (601). As restantes, mulheres (26).

Dias da semana
A julgar pelas estatísticas, a medida que a semana avança, aumentam os números de homcídio. Na segunda-feira, foram registradas 87 mortes. Na terça, 76; na quarta, 98; na quinta, 110; na sexta, 120. No sábado, 142. No domingo, 123.

Horário
Dos crimes levantados, apenas em 619 registros de ocorrência existia o horário das mortes. Entre 20h e meia-noite mata-se mais no estado. Cem destes assassinatos aconteceram nesta faixa de horário.

Em 2008
Segundo uma análise do ISP, em julho de 2008, os homicídios dolosos somados aos autos de resistência, nos meses de julho e agosto, totalizam 935 mortes. Com base nos dados oficiais, é possível afirmar que, em média, 15 pessoas são assassinadas diariamente no estado. Matéria de Isabel Boechat - (Extra)

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