(POLICIAL) Luxo nos imóveis da ‘Cozzolândia’

Dois irmãos de Núbia Cozzolino estão entre os acusados: Charles e Núcia, que fugiu do cerco
POR LESLIE LEITÃO, RIO DE JANEIRO (O DIA)

Rio - Pouco mais de 48 horas depois de a polícia deter a prefeita afastada de Magé, Núbia Cozzolino (PMDB), por adulteração de combustível, agentes da 65ª DP (Magé) desencadearam ontem uma operação contra uma quadrilha acusada de agir dentro da prefeitura do município da Baixada Fluminense. Nove pessoas tiveram as prisões decretadas pela Justiça, entre elas dois irmãos de Núbia — o ex-prefeito Charles e Núcia —, apontados como responsáveis pelo esquema que desviou mais de R$ 2 milhões do cofre municipal entre maio e novembro de 2005.



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Foto Agência O Dia
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Charles foi preso dentro da Secretaria de Obras, mas Núcia, secretária de Fazenda na época, continua foragida. No condomínio onde ela mora, conhecido como ‘Cozzolândia’, em Piabetá, Núbia apareceu, num Sentra prata blindado, para tentar impedir que os agentes revistassem uma mansão de dois andares. No imóvel, a polícia apreendeu R$ 312 mil.

Mais R$ 37 mil foram encontrados no armário da casa da secretária de Serviços Públicos, Sônia Santana de Brito, mulher de Charles, também presa ontem. Também foram capturados Luiz Fernando Cunha, sua mulher, Sueli Santos Lemos Cunha, Maurício Santiago de Araújo, Francisco Pereira de Souza, Flávio Estarneck e o ex-PM e pastor Ricardo Barcelos Nascimento.

Só na conta do pastor os agentes descobriram movimentação de R$ 981 mil. Ricardo era peça importante no esquema, já que preside a Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Vida Plena, um asilo que jamais abrigou mais de quatro idosos e que assinou um contrato para receber R$ 15 milhões da Prefeitura de Magé. A fraude funcionava por meio da entidade, com sede em Cambuci, no Noroeste Fluminense, a 240 quilômetros de Magé.

Essa distância gerou a suspeita dos policiais, que iniciaram a investigação há três meses. A apuração terminou quando a 65ª DP recebeu do Ministério Público um ofício enviado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O documento levantava suspeitas sobre um saque de R$ 300 mil feito em Cambuci, para o pagamento de funcionários da prefeitura de Magé.

“Fomos lá para ver que Oscip era essa e descobrimos que se tratava de um asilo fechado pelo MP por não ter condições de funcionamento. Sabíamos que algo estava errado”, explicou o chefe de investigações da 65ª DP, Edmundo De Simone.

Em 2005, os pagamentos feitos pela prefeitura passavam por uma conta da Oscip Vida Plena, numa espécie de terceirização. No período analisado pela polícia, os pagamentos eram efetuados até três vezes para a mesma pessoa. “O funcionário recebia seu salário e, dias depois, a prefeitura depositava novamente. Desta vez, na conta de terceiros”, explicou o delegado Carlos Quelotti, titular da 65ª DP.

Luxo nos imóveis da ‘Cozzolândia’

Em seis meses, a prefeitura pagou R$ 3,17 milhões à Oscip, mas sua folha salarial, de fato, era de R$ 1,1 milhão. “Houve um rombo de R$ 2,074 milhões”, disse o diretor do Departamento Geral de Policiamento da Baixada, Roberto Cardoso.

A ação de ontem começou em Campos, Norte do estado, onde foi preso o pastor Ricardo. Em Piabetá, a primeira detida foi a mulher de Charles Cozzolino. A casa simples de quarto e sala numa vila escondia o luxo interior: Ecosport na garagem, TV de LCD em frente à cama king size, roupas importadas e, no armário, R$ 37 mil em dinheiro. “Não sei como isso está aqui”, disse ela.

Perto dali, na ‘Cozzolândia’, Núcia não estava em sua casa, toda de madeira, com piscina e objetos de luxo. No terreno, há outro imóvel: uma mansão de dois andares que, mesmo em obras, já ostenta um lustre de cristais, cozinha com eletrodomésticos modernos e gigantesca sala de TV.

GRITOS

Quando os policiais iam entrar na mansão, Núbia saiu esbravejando de seu carro blindado. “Vocês não têm mandado. Não deixa entrar. Liga para o teu pai, que é da Polícia Federal. Eles não podem entrar aí”, gritava para um parente.

Mas o juiz Daniel Vianna, da Comarca de Magé, deu ordem para revistar todo o terreno. No closet de um dos quartos, um agente encontrou uma caixa com R$ 312 mil divididos em notas de R$ 20 e de R$ 50.

“Apreendemos bastante documentos e vamos dar sequência à investigação. Com certeza Núbia tem responsabilidade. Por isso, deveremos desmembrar o inquérito, já que ela tem foro privilegiado”, disse o delegado Quelotti, completando: “O histórico da família Cozzolino é o desvio de verbas e isso não é segredo para ninguém. Há anos eles vinham dilapidando a cidade”.